Muito se tem palpitado sobre a questão do cuidador informal, que por questões de afeto, de cuidado, por vezes económicas, optam por ficar a cuidar dos seus ascendentes e descendentes, acabando por poupar avultadas quantias ao estado português…mesmo avultadas, porque seria incomportável para o Estado pagar todas as horas que estes cuidadores informais despendem, a cuidadores formais.

Qual o meu espanto, em perceber que estas pessoas, mães e pais, filhos e filhas, que permanecem no domicilio a cuidar 24horas por dias, 365 dias por ano, daqueles/as que carecem de cuidados, com demências, com Esclerose, Paralisia cerebral, questões de foro oncológico, e tantas outras….estas pessoas que param as suas vidas, que têm a vida em suspenso  anos fio, décadas e décadas, e por vezes uma vida inteira…. Não têm quaisquer Direitos…so Deveres voluntários…

Diz o Sr. Presidente da União das Misericórdias, que não se deve formalizar quem é informal, mas o Sr. perdoe-me, mas estes cuidadores e cuidadoras de informais, têm muito pouco…digo eu, é so a minha opinião…

A manutenção de pessoas (adultos e crianças) com algum grau de incapacidade nas suas casas ou em coresidência obriga as famílias a redefinirem as relações e obrigações entre os seus membros. Muitas vezes as famílias ficam órfãs temporariamente porque o/a cuidador/a informal tem de se disponibilizar na integra para a pessoa que necessita de cuidados…é um processo duro, desgastante, sem qualquer retorno, exceto o bem estar e conforto de quem se cuida, porque não há o reconhecimento social do serviço que estes cuidadores prestam e da sua importância, são eles que permitem que se possa envelhecer por exemplo em casa, no conforto do lar…são quem permite que menos crianças permaneçam também hospitalizadas ou numa instituição….

Não entendo como as remunerações são tão baixas, cerca de 108 euros mensais (mais cêntimo menos cêntimo!), ficam sem qualquer tipo de descontos, sem férias, estando doentes não auferem qualquer valor, já que também não descontam, não têm mecanismos de suporte social para que possam ter o seu momento de descanso, de pausa para não entrarem em burnout.

O cuidado informal é base invisível dos serviços de saúde de um País, e merecem este reconhecimento, pelas horas e horas de dedicação, que retiram ao estado e às instituições o dever e as obrigações de prestar os cuidados necessários a quem precisa, porque existem estas pessoas…e não lhes damos nada, nem remuneração, nem formação, nem descanso, nem reforma…sou a favor sem duvida da criação do Estatuto do Cuidador Informal, com toda a complexidade que isso implica, para que fique bem explicito quais são os seus direitos, que se crie uma Rede de apoio e suporte por um lado para que o próprio cuidador informal tenha acesso à informação/formação sobre quem cuida, e por outro lado haver um banco de enfermeiros, como se fosse um banco de horas, para que estes cuidadores e cuidadoras possam fazer a sua pausa…ir tão simplesmente dar um passeio, fazer algo que lhes dê prazer, animo e motivação…

Em equipa que se ganha não se mexe, e o cuidador informal tem sido uma equipa mais que ganhadora, por conseguinte não percebo porque tanto os castigamos e os ignoramos…já há uma preposta do Governo Nacional, e projectos-Lei, por conseguinte avance-se agora e não se pare…imaginemos nós que também os cuidadores informais decidem fazer greve…seria digno de se ver, já que as estruturas sociais não têm a capacidade física e humana para abarcar as cifras negras de quem necessita de cuidados, e que está entregue a familiares.

P.S. – “A vida depois de ti, de te ter dedicado o meu tempo e o meu amor…do que fica desta vida, é a memória de ti…que faço agora da minha vida? O que me espera? A quem recorro”? (quem sabe o pensamento de qualquer cuidador/a quando o ente querido parte e passaram décadas)

Carla Mourão