- Dou hoje início a uma colaboração neste espaço, agradecendo a oportunidade que a Rádio Faial me dá de partilhar ideias e propostas. Mantenho a consciência de que a escrita é sempre um exercício de risco, aberto à livre apreciação e à crítica, justa ou injusta, daqueles que escrevem e também de todos os que não o fazem, porque não lhes é dada a oportunidade ou porque simplesmente não arriscam fazê-lo.
Quem escreve, expõe-se, mas faço-o com esta convicção: o debate de ideias é essencial para o desenvolvimento de qualquer sociedade.
- No primeiro artigo que publico neste espaço, decidi escrever sobre o aeroporto da Horta.
É uma decisão consciente, pois apesar dos esforços da população faialense e de tudo o que já escrevi sobre o assunto, estamos num momento especialmente crítico. Por um lado, porque alguns responsáveis políticos, de lá e de cá, tentam confundir os faialenses, apresentando as intenções da ANA/Vinci para construir as áreas de segurança (RESA) a que está obrigada, como se fosse o mesmo que a ambicionada e muito diferente, ampliação da pista; e por outro lado, porque a oportunidade oferecida com a obra que a ANA/Vinci vai concretizar, tem que ser aproveitada para ampliar a pista do aeroporto da Horta.
- Não estamos a falar de um capricho. A ampliação da pista é uma condição nuclear para o futuro do Faial e desta área do arquipélago.
Uma ilha sem acessibilidades adequadas é um território estrangulado na sua capacidade de desenvolvimento. E o Faial é neste momento, e de há cinco anos a esta parte, uma ilha mal servida ao nível dos transportes aéreos, com destaque negativo para a ligação Lisboa-Horta.
Esta questão tem duas dimensões diferentes, mas que estão interligadas: por um lado, a incapacidade que o governo e a Sata têm demonstrado para prestar um serviço correspondente às necessidades desta ilha, dos seus empresários e da população; e por outro, a necessidade de ampliação da pista do aeroporto.
- Quanto à necessidade de ampliação da pista, para pelo menos 2.050 metros, é preciso esclarecer que as aeronaves A320 da Sata/Azores Airlines operam no aeroporto da Horta com penalização ao nível do peso. Esta penalização dificulta gravemente a exportação dos produtos locais, nomeadamente dos produtos frescos como o peixe e hortícolas, com grave prejuízo para a frágil economia local e, consequentemente, para a possibilidade de criação de postos de trabalho.
É também esta a causa das situações em que os passageiros chegam ao Faial e tomam conhecimento de que a bagagem ficou em Lisboa, por vezes na totalidade. Compreende-se que, tendo que optar entre deixar passageiros atrás ou deixar carga, o piloto opte por trazer as pessoas e deixar as malas em Lisboa, mas esta limitação do aeroporto transforma férias de sonho num pequeno pesadelo (sobretudo quando há crianças envolvidas) e está a manchar gravemente a imagem do Faial e dos Açores enquanto destino turístico.
- Para além de eliminar as penalizações dos aviões A320, a ampliação da pista é também crucial para permitir a operação das aeronaves que a Sata tem vindo a adquirir (A321Neo), que não podem operar no Faial nas condições atuais.
Por outro lado, o investimento no aeroporto é ainda vital para atrair outras companhias aéreas, que venham complementar o serviço da Sata e contribuir de forma efetiva para melhorar as acessibilidades aéreas ao Faial e a esta parte do arquipélago.
E em termos muito gerais, importa mencionar também que em matéria de segurança, um aeroporto de maior dimensão oferece, naturalmente, melhores garantias nessa vertente.
A ampliação da pista proporcionará ainda, naturalmente, uma melhoria muito significativa da performance em matéria de cancelamentos e divergências para outros aeroportos, com vantagens imediatas na satisfação dos passageiros, na redução dos encargos para as companhias aéreas e na recuperação da imagem do Faial e dos Açores enquanto destino turístico de excelência.
- Por isso, mais do que uma aspiração legítima dos faialenses, e mais do que uma promessa eleitoral antiga do Partido Socialista, que ganhou muitos votos em atos eleitorais sucessivos à conta dessa promessa, a ampliação da pista do aeroporto da Horta para, pelo menos 2.050 metros, é fundamental para a mobilidade da população e para o futuro desta ilha, e não pode ser confundida com as áreas de segurança (RESA) que a ANA/Vinci vai construir.
Carlos Ferreira
12 de fevereiro de 2020