Neste fim de 2020, queria partilhar convosco algumas reflexões que numa forma de “back to basics” podemos interpretar, rever, considerar, analisar.

O ser Humano é por excelência um ser com uma capacidade quase infindável de adaptação, de sobrevivência e de resiliência, as quais temos assistido a esse facto dia sim, dia sim…as solicitações são tantas para a classe da saúde, para pais, filhos e filhas, jovens, velhos, são tantas as privações, as adaptações, os sacrifícios que tantos e tantas fazem diariamente…só mesmo um ser com esta blindagem que se reveste de esperança, de afecto, de perseverança, e que se vale de todos os sentimentos e ferramentas que possui, para avançar um dia de cada vez, podendo no entanto, ser o nosso ultimo… esta finitude que nos acompanha desde que nascemos!

De outro lado da moeda surge-me à mente, aquele titulo da Marly Kuenerz, “ O Jogo da Atenção”(que há uns anos bem grandes atrás pairava na biblioteca lá de casa) que traça um perfil do nosso desenvolvimento desde que nascemos até que perecemos, e deteta um denominador comum em todo este processo, que é a atenção.

A atenção que temos em bebés dos nossos progenitores, em crianças, ao longo da adolescência, na nossa vida adulta, na nossa vida sénior…todos e todas procuramos validação e reconhecimento de um pai, ou de uma mãe, de um filho ou filha, de um/a chefe, da pessoa com quem partilhamos a vida amorosa…buscamos esta atenção, de várias formas, muitas vezes numa clivagem com o nosso próprio eu, por ser doloroso, por vivermos uma vida sem o reconhecimento da pessoa que necessitamos que nos valide, provocando por vezes sofrimento, e uma sensação de bloqueio na própria evolução de vida.

Mas, extraordinariamente, no meio deste pandemónio viral, fizemos o exercício e adaptação de nos privarmos por vezes de quem mais amamos, de a saudade nos invadir, mas estoicamente, e para um bem maior refreamos a atenção que nos preenche, que nos faz sentir amados, reconhecidos e validados…sabendo de antemão que o nós, começa num ”eu” individual, devendo este ser autónomo, e com elevada estima em relação a si, mas  é na relação com os outros que crescemos e evoluímos.

Esta privação que nos foi imposta, é merecedora de reflexão, sobre a nossa pessoa, sobre quem nos rodeia, quem amamos e quem nos ama, sobre as exigências diárias, muitas vezes que se prolongam no tempo…famílias separadas, pais e filhos separados, avós fechados em lares…sacrifícios para um bem maior…a vida, a sobrevivência.

Então o ser que necessita ao longo da sua jornada de vida de atenção, e que se alimenta dela, na verdade, põe-se em standby pelo bem maior, pelo bem comum, e assistimos a altruísmo sério, consciente, de uma lucidez gigantesca, que só o ser humano é capaz.

Lembro-me no início desta crise, das palavras do General Ramalho Eanes, à questão da jornalista sobre os ventiladores, ao que este responde algo como “ se ao meu lado estivesse um jovem, eu cedia o meu ventilador”…acredito genuinamente que o faria.

Ao semblante triste e cabisbaixo de tantas pessoas nesta época natalícia, só vos posso transmitir temos invariavelmente de ser fortes, e continuar a resistir, o nosso barco é o mesmo, não há iates nem veleiros, só uma casquinha de noz que vai navegando consoante a maré…rememos todos…somos todos e todas guerreiros e guerreiras com uma força extraordinária.

 

P.S. Cuidem-se e Respeitem o outro, para que possam ser cuidados e respeitados!

Santo Natal

Esperança em 2021

 

 

 

Já tinha saudades de escrever…espero não vos ter roubado muito tempo!

Obrigada (às pessoas)