1. Boas notícias

Precisamos de boas notícias para vermos o raio de esperança que está lá, no horizonte, e nos dá a motivação necessária para vencermos esta batalha.

Nesta batalha estamos todos juntos e o comportamento de todos, e de cada um de nós, é decisivo para vencermos.

Por isso, admitindo em primeiro lugar que não me apetecia voltar a escrever sobre o Covid-19, mas ciente de que não é possível fugir ao assunto do vírus que transformou por completo as nossas vidas, opto por começar pelas notícias positivas.

Faço-o na expetativa de que as boas notícias constituam mais um incentivo nesta nossa luta coletiva com o novo coronavírus e as suas consequências ao nível da saúde pública, da vertente social e da economia.

  1. A melhoria das curvas de propagação em Portugal

A primeira boa notícia diz respeito aos números. Se há três semanas a taxa de crescimento diário de novos casos positivos rondava os 27% e os modelos matemáticos previam que no dia 5 de abril, Portugal contabilizasse 20 mil infetados, a verdade é que essa percentagem foi diminuindo progressivamente. No dia 27 de março atingiu os 20%, no dia 1 de abril baixou para o patamar dos 10,8%.

No dia 5 de abril, a taxa de crescimento cifrou-se nos 7,2% e o país registava 11.278 pessoas infetadas, um valor considerável, mas muito inferior aos 20 mil casos que chegaram a ser previstos.

Hoje, 15 de abril, Portugal contabiliza 18.091 pessoas infetadas e a taxa de crescimento foi de 3,2%.

Esta evolução significa que as medidas implementadas estão a fazer diferença. Reforço, por isso, o que defendi anteriormente: se tivéssemos adotado medidas de prevenção no tempo certo, Portugal estaria hoje numa situação muito mais favorável.

  1. Heróis

A batalha não está ganha, muito pelo contrário. Mas os dados são muito menos negativos do que aqueles que eram projetados há três semanas e a evolução é bem mais reconfortante.

Este dado é importante para todos nós, mas é um estímulo imprescindível, sobretudo, para aqueles que estão na linha da frente, para aqueles que têm que sair de casa todos os dias para trabalhar. Profissionais de saúde das várias categorias, bombeiros, forças de segurança, trabalhadores de recolha de resíduos ou de distribuição de gás, operadores de supermercado, mercearia, padaria, postos de combustível, e muitos outros que não podem ficar em casa.

A todos estes heróis, que estão muito mais expostos a um potencial contágio, sabendo que estão também, por consequência, a expor as suas crianças e famílias, o mínimo que podemos, e devemos fazer, como forma de reconhecimento, é ficar em casa o máximo possível e cumprir as restantes recomendações de distanciamento, higienização e etiqueta respiratória.

  1. A corrida à vacina

Uma boa notícia é também a verdadeira corrida a que assistimos para criar uma vacina.

Num primeiro momento, foram noticiados 41 projetos em curso, mas a informação mais recente aponta já para 70 programas com este fim. Foram dados passos importantes, como a descodificação em tempo recorde do genoma do SARS-CoV-2, mas a aprovação oficial de uma vacina pode demorar, ainda, entre 12 a 18 meses.

Os projetos mais avançados parecem ser o de Mainz, na Alemanha, que prevê fazer testes em humanos ainda este mês, o de Oxford, no Reino Unido, que prevê o mesmo para maio, e um dos Estados Unidos que demorou apenas 63 dias entre a sequenciação do genoma do SARS-CoV-2 e a injeção do produto no braço de um voluntário, um feito  extraordinário. Para além destes, há que considerar naturalmente a investigação na China, o país de origem do vírus.

Merece ainda destaque o trabalho em curso pela Fundação Bill and Melinda Gates, que está a desenvolver um teste auto-administrado para a deteção da infeção, o que aliviaria de sobremaneira os profissionais de saúde.

  1. Tempo para os outros

O nosso mundo mudou por completo. De repente, vimo-nos confrontados com um tremendo inimigo, invisível, que nos obrigou a encerrar escolas, serviços públicos e atividades consideradas não prioritárias. Um inimigo que nos obrigou a abdicar dos contactos de “carne e osso” com conhecidos, amigos e familiares.

Esta pandemia obrigou-nos, por isso, a refletir sobre os nossos hábitos, prioridades, e sobre a forma como deixamos passar o tempo. E fez-nos perceber que temos que dedicar mais tempo aos outros, às pessoas. Que temos que dedicar mais tempo ao que realmente interessa.

Esse é um aspeto positivo no meio de toda esta crise.

A adesão de pessoas mais velhas às novas tecnologias de informação e comunicação, é também um ponto positivo. Muitos idosos que até agora eram verdadeiros infoexcluídos, usam agora as plataformas de comunicação à distância para ver e falar com os seus familiares e amigos.

Por último, num mundo que está completamente diferente, será interessante avaliar os efeitos desta crise pandémica no nosso planeta, nomeadamente em relação à poluição. A redução da atividade humana e da produção industrial, por exemplo na China e noutros países asiáticos, está a revelar mudanças significativas nos níveis de poluição, e este será um dos aspetos que terão que ser analisados quando vencermos a pandemia do Covid-19.

Sim, “quando”, porque vamos vencer!

Carlos Ferreira

(artigo revisto a 15 de abril para publicação na Rádio Faial)